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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fabrica de Chá Gorreana - São Miguel - Açores

Portugal parece ter ainda tesouros por descobrir. Um deles, do qual muitos portugueses nunca ouviram falar, é o Chá Gorreana. Esta apreciada bebida cultivada cá, mais concretamente na ilha de S. Miguel, nos Açores, foi durante muitos anos a única plantação de chá da Europa. Na actualidade, a fábrica Gorreana continua a produzir, apesar das muitas dificuldades (sempre ultrapassadas). A história da introdução do chá em S. Miguel, confunde-se com a da vida das famílias micaelenses.

Neste momento é a família Mota e, mais preponderantemente, Armando Mota, quem impulsiona a plantação. O chá aparece na ilha pelas mãos de Jacinto Leite (micaelense) por volta de 1820, que traz as sementes do Brasil. O seu cultivo foi depois incentivado pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, que, como resposta à crise da laranja (em meados do século passado), mandou vir em 1878, dois chineses para S.Miguel. Estes trouxeram mais semente para a plantação e ensinaram as complexas tarefas da sua preparação.

A plantação da Gorreana inicia a sua produção em 1874 e, em 1883, consegue o primeiro quilo de chá seco. Assim surge o chá Gorreana, pelas mãos de Hermelinda Pacheco Gago da Câmara. E apesar dos filhos que teve, o Gorrreana acaba por ficar para a sua neta Angelina. É ela que vem a casar com Jaime Hintze (s sua família, de origem alemã, veio para Portugal no século XVIII) que se entregou à plantação e proporcionou o seu crescimento. Jaime construiu ainda a Central hidroeléctrica; se não fosse esta medida, talvez o Gorreana não tivesse sobrevivido.



As outras plantações e fábricas não tinham este recurso, ficando apenas com a máquina a vapor. Isto tornou-se limitativo, tanto no preço da energia, como no recurso à mecanização, dado que só em meados dos anos sessenta houve distribuição de energia elétrica nas aldeias. Além disso, Jaime foi o primeiro fabricante Açoriano a conseguir a marca registada em pacotes.

O filho de Jaime e Argelina, Fernando, casa com Berta Ferreira Meireles. E continua a obra do pai, comprando grande parte das máquinas que, estão ainda em funcionamento. Mas vai mais mais longe e constrói uma central termoeléctrica, uma alternativa à hidroeléctrica. Fernando morre muito novo, deixando apenas uma filha, Margarida Hintze. Em 1966, Margarida casa com Hermano Mota.

O actual impulsionador do Gorreana, de 59 anos, já tinha estado ligado a esta planta, a sua família produzia o Chá Corte Real. Mas era apenas uma plantação e o seu pai pagava às fábricas a sua utilização. Quando todas fecharam, porque a produção de leite era mais fácil (devido à falta de electricidade), o Chá Corte Real acabou.


Toneladas e toneladas de chá.

O chá teve produções significativas nas primeiras décadas deste século. Na ordem das 700 toneladas por ano. No entanto, as restrições às trocas com o exterior, durante as duas grandes guerras, fizeram com que houvesse um maior investimento noutras culturas mais necessárias à subsistência . E o declínio da produção de chá foi inevitável. Dos anos 80 até há bem pouco tempo, a Gorreana era a única fábrica de chá da Europa. Mas em tempos houve cerca de 15 em S. Miguel.


Até 1976, vendia cerca de 80 toneladas ao Continente, mas um dia a casa que fazia a distribuição fechou e o Gorreana saíu do mercado. A fábrica já passou por diversas dificuldades, a mais recente foi quando apareceram as grandes superfícies, há cerca de dez anos. “Nos primeiros dois anos, prejudicaram bastante, a venda baixou quase 43%. Houve uma mudança de hábitos, as pessoas foram aliciadas por outros produtos, por outras bebidas, mais do que por outros chás. Com o tempo, a euforia parece ter passado e voltam agora ao chá. Conseguimos atingir os valores que tínhamos antes de aparecerem as grandes superfícies. E vendemos também para os hipermercados, mas mantém-se a nossa presença no mercado tradicional.”

Entretanto há cerca de um ano, surgiu a concorrência. Mas Hermano Mota não notou qualquer diferença nas vendas, “até é capaz de ajudar, visto que se fala mais no chá dos Açores,” Outro grande impulso tem sido o contacto directo dos clientes com a fábrica: “se não fossem as visitas à fábrica e o aumento considerável de turismo, julgo que já não haveria chá nos Açores. É mais uma venda. As pessoas passam a conhecer e o “passa-palavra” tem sido muito importante”. A venda directa na fábrica representa 5% das totais.


A plantação tem 32 hectares e, actualmente, a produção anda à volta das 33 toneladas por ano (mas tem capacidade para 40). Este ano o objectivo é chegar às 35. A maior fatia da produção destina-se ao consumo da Região, mas há ainda uma parcela de duas toneladas para o Continente, quatro para a Alemanha (o país da Europa onde o consumo de chá tem aumentado mais per capita), cerca de para os EUA e Canadá, e ainda perto de seiscentos quilos para a Áustria.

É preciso ter em conta que para os EUA e para o Canadá vai muito mais chá, que é levado pelos micaelenses, depois de passarem as suas férias na terra natal. O clima dos Açores ajuda a planta do chá – Camellia sinensis – porque lhe dá a água que ela precisa. “Temos chuvas bem distribuídas ao longo do ano. O chá precisa de pelo menos, 30 milímetros de água por mês.
Felizmente não temos geadas, que queimam as folhas e o sol não é demasiado intenso, há sempre umas nuvens”, explica o proprietário.

Além disso, o solo argiloso e ácido dá origem a um chá muito perfumado e de travo agradável. O Chá Gorreana é ainda apreciado por ser um produto ecológico, livre de pesticidas, herbicidas e fungicidas.

Nos países onde há a estação das chuvas, há mosquitos e a mosca do chá, que picam ou mordem o gomo terminal e a folha não se desenvolve. Daí que têm de fazer aplicações de insecticidas. Por outro lado, nos países da estação seca, há o aranhiço vermelho, que também tem de ser combatido com insecticidas. E às vezes ainda precisam de usar fungicidas. Nós não temos nem a estação seca nem a da chuva” explica Hermano Mota.

O chá é produzido pelo método Hysson (através de vapor) e é um chá “ortodoxo” ou “tradicional” - as folhas são enroladas e, depois de secas, a maioria está inteira. Segundo o proprietário, o chá tem “ um paladar mito agradável e um aroma mais forte do que a generalidade dos chás comercializados” Da fábrica sai o tradicional chá preto, o muito em voga chá verde e ainda, por encomenda, o semifermentado (soochong, oolong e poochong).

Dentro do chá preto há três variedades: o Orange Pekoe (feito do gomo terminal e a primeira folha), o Pekoe (da segunda folha) e o Broken Leaf (da terceira que é mais rija porque não enrolou). Dentro do verde, para além do mais comum, fazemos o chá pérola, muito semelhante ao Gun Powder (chinês), em que as folhas estão mais tempo no vapor e o enrolador enrola por si.


Um fenómeno curioso que Hermano Mota relata é a procura desenfreada pelo chá verde. Actualmente, a Gorreana já produz 12 toneladas por ano desta variedade. Até há cinco anos só eram feitos à volta de 700 kilos e apenas para consumo nas ilhas. Antigamente na Europa, praticamente só se bebia chá verde. Mas depois da II Grande Guerra, a imprensa divulgou alguns perigos do chá verde, porque era feito em máquinas de cobre.

E o chá preto veio substituí-lo. Recentemente começaram a aparecer os estudos que provam que os antioxidantes (presentes no chá) ajudam a prevenir o cancro. Hoje em dia, os cilindros onde se aquecem as folhas do chá com o vapor de água são de madeira.

Hermano Mota, o especialista, revelou qual o chá que escolhe para cada ocasião: “quando bebo o chá das cinco gosto do Orange Pekoe. Para pequeno-almoço e para acompanhar uma refeição (com os carapaus fritos, que é um prato muito típico cá em casa) prefiro o Pekoe. A seguir a uma grande festança e a uma comida farta, gosto do verde, que é muito digestivo”.

Este é, sem dúvida, um negócio de família, visto que conta com a ajuda de todos. Aos fins-de-semana, por exemplo, a tarefa de receber as visitas turísticas é repartida por todos. E a continuação do chá Gorreana parece já estar assegurada. Dos cinco filhos que tiveram, já dois se interessaram pela plantação. André, 32 anos, e Tiago, 24, são os entusiastas. O Tiago ainda estuda, mas dedica-se muito à fábrica. O André ocupa-se mais da exploração leiteira. Assim, garantem a continuação do tradicional chá dos Açores.


O chá das cinco.

Segundo uma lenda chinesa, o chá foi descoberto pelo imperador Shen-Nung por volta do ano 2737 a.C. No continente europeu a introdução do chá é claramente atribuída aos portugueses, em 1560, através das trocas comerciais que mantinham com Macau. E foi daqui que surgiu para outros países da Europa levado pela Companhia Holandesa das Índias Orientais. Também a Grã-Bretanha se tornou um país de enorme consumo através da influencia portuguesa. Foi a princesa Catarina de Bragança, mulher do rei D. Carlos II, uma grande apreciadora do chá, que, em 1662, o difundiu na corte inglesa. É ainda em terras que surge o hábito de beber o “chá das cinco”, impulsionado pela duquesa de Bedford, para eliminar uma sensação de fraqueza.

O Ananás da ilha de São Miguel - Açores - Portugal

A SUA HISTÓRIA
O ananás (Ananassa Sativus,Lindl) cultivado em estufas de vidro na ilha de São Miguel é originário da América Central e do Sul e foi introduzido nesta ilha, como planta ornamental, em meados do século XIX.A sua cultura visou primeiramente o abastecimento das casas abastadas, tendo as primeiras explorações de caracter comercial surgido em 1864. Com o correr dos anos este excepcional fruto transformou-se num verdadeiro ex-libris da região.Os concelhos de Ponta Delgada, Lagoa, Vila Franca a Ribeira Grande são em ordem decrescente os seus principais centros produtores, sendo a Fajã de Baixo a freguesia com maior número de estufas.


AS ESTUFAS
São de formato rectangular, cobertas de vidro caiado formando duas águas com a inclinação aproximada de 33 ° e aquecidas apenas pelo sol. Na parte superior da cobertura as janelas, ou "alboios", servem para regular a temperatura e a ventilação do interior da estufa. O interior da estufa divide-se em "tabuleiros", ou "canteiros", separados ao meio por um carreiro de pedra, estes por sua vez dividem-se em vãos (o espaço que vai de ferro a ferro de suporte da cobertura).

A CULTURA DO ANANÁS
1 ° período da cultura:
Nos "estufins", estufas mais pequenas, plantam-se as tocas a uma distancia de l0 cm entre cada uma e cobrem-se de terra. Regasse então diariamente nos primeiros quinze dias e depois em dias alternados. Nesta fase é importante não deixar a temperatura abaixo dos 26 ° C fazendo-a subir até aos 38 ° C. Ao fim de um mês os "brolhos" despontam desenvolvendo-se no estufim até seis meses sendo depois transplantados para as estufas.Tanto no estufim como na estufa é preparada uma "cama" para o enchimento dos tabuleiros. As camas fazem-se com a sobreposição de varias camadas de terra velha (já usada noutras estufas, rica em matéria orgânica), mondas (folhas de ananases, fetos, ervas, caruma de pinheiro), rama de incenseiro e farelo.

2 ° período da cultura:
Nas estufas o plantio dispõe-se de maneira a que cada planta fique a uma distancia de 50 a 60cm umas das outras. Após a plantação rega-se diariamente durante duas semanas, durante o crescimento do fruto as regas diminuem até se extinguirem na fase de maturação. 3 a 4 meses depois de plantada a estufa tem lugar a operação do "fumo". Esta operação, descoberta ocasionalmente, funciona como uma intoxicação o que obriga todas as plantas a florescerem ao mesmo tempo. Ao fim do dia (quatro a oito dias no verso, oito a quinze no inverno) queimam-se em recipientes próprios colocados no interior da estufa, aparas e verduras de modo a produzir um espesso fumo, no dia seguinte abrem-se as portas e os alboios para arejar.O período completo da cultura, que vai desde a plantação das tocas até ao corte do fruto tem a duração de 18 meses.

A gastronomia Tradicional - São Miguel - Açores - Portugal

As velhas receitas tradicionais mantêm-se em pratos suculentos, como o caldo azedo, couves solteiras, os fervedouros, o polvo guisado em vinho de cheiro, os torresmos em molho de fígado, as caldeiradas de peixe, o arroz de lapas, o ensopado de trutas, as lapas de molho Afonso, a que se deve juntar o sempre curioso cozido das Furnas, em que o tacho contendo as carnes e os legumes é enterrado envolto num saco para que o calor vulcânico actue, e passadas algumas horas está pronto a deliciar o paladar com o seu sabor.


Lagosta, cavaco, caranguejos e as estranhas cracas, escondidas nos orifícios que escavam nas pedras, satisfazem os apreciadores de mariscos. No que respeita a queijos, São Miguel oferece o branco e macio queijo de cabra fresco e o queijo da Ilha, de sabor picante quando seco.

A antiga doçaria conventual faz as delícias dos gulosos nas queijadas de Vila Franca do Campo, nos confeitos da Ribeira Grande, no bolo lêvedo das Fumas, na barriga-de-freira, massa sovada, bichos de amêndoa e compota de capucho, pequeno fruto de uma planta herbácea.

A região da Caloura produz vinho de cheiro, ou morangueiro, com perfume característico e pouco encorpado. Os licores de maracujá e de ananás são formas agradáveis de terminar uma refeição.