quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Santa Cruz - São Miguel - Açores - Portugal

A freguesia de Santa Cruz situa-se na costa sul da ilha de São Miguel. Confronta com as freguesias do Rosário, Cabouco e Água de Pau. Constitui, com o Rosário, a Vila da Lagoa. Apresenta uma área de 14,26 Km2, integrando o lugar dos Remédios.
A sua população é constituída por 3501 habitantes, de acordo com os censos de 2001.
Foi na zona da actual igreja de Santa Cruz que os fundadores da Vila da Lagoa se fixaram, junto a uma lagoa então aí existente e que viria a dar nome ao povoado.


Celebra a sua festa religiosa no primeiro domingo de Agosto, em honra ao Santíssimo.
Anualmente, a 13 de Junho, realizam-se as tradicionais festas de Santo António, promovidas pela Junta de Freguesia. A maior atracção destas festas são as marchas, que contam com a participação da juventude da freguesia e das escolas do Concelho. Esta, sendo uma das maiores festas populares, atrai todos os anos diversos forasteiros.
É nesta freguesia que se situa o Edifício dos Paços do Concelho, mais concretamente no Largo D. João III.

Nossa Senhora do Rosário - São Miguel - Açores

A freguesia do Rosário situa-se na costa sul de São Miguel. Confronta com os concelhos de Ponta Delgada e Ribeira Grande e com as freguesias de Cabouco e Santa Cruz. Apresenta uma área de 5,92 Km2, integrando o lugar da Atalhada. De acordo com os censos de 2001, a sua população é constituída por 5401 habitantes.


Esta freguesia constitui, junto com Santa Cruz, a Vila da Lagoa.

No primeiro domingo de Julho, nesta freguesia, celebra-se o dia do Sagrado Coração de Jesus. O dia de Nossa Senhora do Rosário é festejado no segundo domingo de Outubro. Salienta-se ainda a Festa da Juventude, no Porto dos Carneiros, no terceiro fim-de-semana de Julho. Trata-se de uma festa dedicada à juventude, onde não faltam as barraquinhas de comes e bebes e muita música.

No lugar da Atalhada, a festa religiosa é celebrada no primeiro domingo de Setembro – Nossa Senhora das Necessidades.

Ribeira Chã - História - São Miguel - Portugal

A freguesia de Ribeira Chã fica situada na costa sul da ilha de São Miguel, a cerca de 10 km da Vila da Lagoa. Confronta com o mar e com as freguesias de Água de Pau e Água D’Alto (Concelho de Vila Franca do Campo). Apresenta uma área de 2,52 Km2 e a sua população é composta por 366 habitantes, de acordo com os resultados dos censos de 2001. O seu nome advém da ribeira que corre nas suas proximidades e que desagua no mar, por uma grota coberta de lajes rasas.
Inicialmente, a Ribeira Chã pertencia à Vila de Água de Pau. No entanto, foi elevada a freguesia a 18 de Maio de 1966. Nesta freguesia, podem-se visitar diferentes museus, onde é evidenciada a religiosidade e as vivências rurais do seu povo. A sua igreja, construída pelo povo e com o auxílio dos Viscondes da Praia, foi inaugurada em 1967.No primeiro domingo de Agosto, a população desta freguesia festeja a sua festa religiosa – Santíssimo Sacramento.

Água de Pau - História - São Miguel - Açores - Portugal


Água de Pau é uma freguesia do concelho da Lagoa, com 17,43 km² de área e cerca de 4000 habitantes. Densidade: 179,1 hab./km².
No contexto do povoamento dos Açores é muito antiga esta freguesia, sendo elevada a esta categoria em 28 de Julho de 1500. Foi destruída a sua igreja pelo terramoto de 1522, iniciando-se a reconstrução em 10 de Novembro de 1525. A primitiva igreja foi condecorada por D. Manuel I, em 1521, com o hábito de Cristo. Água de Pau, freguesia do Concelho da Lagoa com 4000 habitantes, fica situada na costa Sul da Ilha de São Miguel, a cerca de 17 km de Ponta Delgada e a 7 km da sede do concelho.

A fixação dos primeiros habitantes em Água de Pau terá ocorrido devido à existência de nascentes de água potável, por ser atravessada por uma ribeira que serviu a localidade como fonte de energia e, por último, devido ao facto de as suas terras serem férteis e abrigadas. No século XVI, a principal cultura terá sido a do pastel, enquanto que na zona do Paul existiam "pomares de muita fruta" e na Caloura predominavam a vinha e as figueiras.
Hoje, grande parte da sua população dedica-se à agropecuária e à agricultura, sendo também de registar o número daqueles que têm a sua ocupação na construção civil, nos serviços e no comércio. O artesanato tem forte implantação na localidade, sendo de realçar os trabalhos em vime e de tecelagem.

A 28 de Julho de 1515, por carta régia de D. Manuel I, Água de Pau foi elevada a Vila. Trezentos e trinta e oito anos depois "devido à falta de recursos e de elementos indispensáveis para poder continuar a ter uma administração regular", o concelho de Água de Pau foi extinto por força do decreto de 19 de Outubro de 1853.

Do ponto de vista cultural destaca-se a criação, em 1859, da primeira banda de música da localidade "A União". A "Fraternidade Rural", banda ainda hoje existente, foi criada em 1867 com a designação de "Estímulo Artístico". Hoje, é grande o dinamismo da comunidade pauense na área da cultura, com a actividade das seguintes entidades: o Grupo Jovem Pauense, a Associação Musical "Os Amigos da Paz", o Grupo Musical "Lua Nova", o Grupo "Amantes da Musica", o Grupo de Escoteiros nº 97 da Vila de Água de Pau e ainda o Grupo "Luar de Agosto".

A Vila de Água de Pau,integrava o povoado de Ribeira Chã. O concelho foi extinto em 1853 e o seu território incorporado no concelho da Lagoa. Pelo Decreto Legislativo Regional n.º 29/2003/A, de 24 de Junho, a freguesia de Água de Pau reforçou a categoria de “vila”, que jamais perdeu, tendo perdido o estatuto de concelho mas nunca lhe fora retirado o título de vila.
Além da igreja matriz, teve ainda as Igrejas de Nossa Senhora da Ajuda, Nossa Senhora de Monserrate, São Pedro, Nossa Senhora do Rosário, São Sebastião, Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora da Conceição, a maioria já desaparecidas.

Locais de Interesse na Lagoa - São Miguel - Açores - Portugal

O Concelho de Lagoa proporciona aos amantes da natureza uma excelente oferta paisagística, constituindo no seu todo, um óptimo cartão de visita, impressionando todos os que por aqui passam.

O ex-libris turístico do Concelho é constituído pelo lugar da Caloura. Vinhedos entre muros de pedra negra, o típico porto protegido pela alta falésia de rochas vulcânicas e o conventinho caiado de branco, fazem as delícias dos seus visitantes. Não se trata de uma praia, mas sim de um porto, com uma piscina natural e vários acessos ao mar por escadas e cobiçada pelas suas águas límpidas. O fundo do mar é coberto por cascalho e alguma areia. Mesmo ao lado existe um pequeno porto de pesca artesanal, com uma moderna rampa de varagem e câmara frigorífica e apresenta sempre um aspecto muito limpo, por se tratar de uma obra recente. Nesta zona, existe um bar com esplanada, que serve refeições, e dois balneários.

Beneficiando de um microclima favorável, a Caloura é um lugar de veraneio muito procurado. Oferece a oportunidade de um refrescante banho de mar nas águas transparentes do seu porto, galardoadas com o Programa Bandeira Azul. Daí ser considerada um paraíso junto ao mar.
O acesso é feito por uma estrada regional, tendo estacionamento com capacidade para 100 veículos. Aqui, realizam-se diversas actividades culturais durante o ano, sendo a mais relevante a Festa do Pescador, que atrai milhares de forasteiros à Caloura. Esta festa inclui festival de folclore e várias actividades náuticas.






O serviço de apoio no Porto da Caloura é composto por um nadador salvador e um vigilante, diversos equipamentos de salvamento, um pequeno porto com rampa de acesso para actividades náuticas (barcos e motas), contentores e papeleiras de lixo.

Ainda em Água de Pau, no Pico da Figueira, temos o Miradouro do Monte Santo, onde se pode desfrutar de um belíssimo panorama das redondezas. Mais acima, na Estrada Regional entre esta Vila e a freguesia da Ribeira Chã, encontra-se o Miradouro do Pisão, que oferece uma linda panorâmica sobre a região da Caloura e a costa sul da ilha de São Miguel.


Em Água de Pau, pode ainda passar pelo Jardim dos Anjos. Inicialmente construído nos anos sessenta, este tem passado por diversas remodelações, tendo sido a última em 1991. Situa-se em frente à Igreja Paroquial desta Vila.

A freguesia de Santa Cruz abriga o parque florestal Chã da Macela, com uma extensa área onde crescem várias espécies vegetais, umas endémicas (louro, queiró, urze, cedro do mato, uva da serra), outras introduzidas (araucárias, criptomérias, cedros, acácias, pinheiros).
Aqui, além da exuberante vegetação, pode admirar os animais que aí habitam e aproveitar para descansar nos verdejantes espaços de lazer.


O Jardim do Convento dos Franciscanos é um dos mais importantes pontos turísticos da freguesia de Santa Cruz.
No Rosário, no Largo do Porto dos Carneiros, situa-se a baía onde aportavam os primeiros barcos de pesca da Lagoa. Foi na zona do actual porto que antes do início do povoamento foi lançado gado na ilha, de modo a alimentar os futuros povoadores, daí o nome de Porto dos Carneiros.
Este local, que recentemente foi alvo de obras de beneficiação, apresenta uma arquitectura muito interessante, onde se destaca o bonito edifício “Mercado de Peixe”, actual Lota. É uma bonita zona de lazer com excelentes restaurantes.


Ainda no Rosário, aprecie um dos melhores complexos de piscinas da ilha de São Miguel – Complexo Municipal de Piscinas de Lagoa. Situado na Rua Cidade de New Bedford, este complexo surge como um verdadeiro “monumento” em homenagem a todos os que gostam do sol e do mar. Além de uma piscina coberta, possui piscinas naturais, uma piscina semi-olímpica, piscinas para crianças e excelentes infra-estruturas de apoio, como bar com esplanada, vestiários, sanitários e parque de estacionamento.

Trata-se de um conjunto de baixios que se estendem de forma irregular por cerca de 150 metros, numa zona em que a costa se apresenta bastante recortada e em que se fez o seu aproveitamento para espaço de lazer. É de salientar que esta não é uma obra de hoje. No local que deu origem ao actual Complexo de Piscinas já existia anteriormente a chamada Piscina Municipal, mas que em virtude do temporal a 26 de Dezembro de 1996, que causou avultados prejuízos, houve necessidade de se proceder a obras de recuperação. Este Complexo goza de uma adequada integração paisagística, possui excelentes condições técnicas e preserva as excepcionais condições costeiras, nomeadamente a qualidade das suas águas, que por isso mesmo tem alcançado ano após ano a Bandeira Azul. Por tudo isto, pode-se dizer que o Complexo Municipal de Piscinas na Lagoa usufrui de condições únicas, para que os amantes do sol e do mar possam passar os seus dias de férias de forma inesquecível. Ao sol, associa-se o cheiro da maresia, um céu azul, águas límpidas e transparentes que permitem um horizonte de emoções e pensamentos, num espaço que é rico em convívio e boa disposição.

A Praça de Nossa Senhora da Graça também é uma área de agradável permanência e lazer, existindo um anfiteatro ao ar livre, destinado a manifestações de âmbito cultural e recreativo.
Largo de Ville Sainte Thérèse, na Freguesia do Rosário, advém de um protocolo, realizado no ano de 1996, entre o Concelho da Lagoa e a Ville de Sainte Thérèse, no Canadá. Este largo simboliza a amizade existente entre as duas comunidades.


História da Lagoa - São Miguel - Açores - Portugal

A Lagoa começou a ser povoada pouco depois da descoberta da Ilha de S. Miguel. Os seus primeiros habitantes estabeleceram-se nos locais, onde mais tarde surgiram, as vilas de Lagoa e Água de Pau.

A Lagoa foi o local escolhido pela sua abrigada enseada, tornando-se desde cedo local de embarque e desembarque. Foi a partir do Porto dos Carneiros que foi lançado gado, incluindo carneiros, e outros animais na Ilha.


“A villa d’ALagoa, chamada assim por uma que teve defronte da porta da Egreja principal acima d’um recife e porto que tem onde podiam entrar bateis, na qual antigamente se tomou já muito pescado, por entrar ás vezes o mar nela, e bebia o gado e nadavam por passatempo algumas pessoas (…).”
Gaspar Fructuoso


O próprio nome de Lagoa é elucidativo de como os primeiros povoadores escolhiam lugares propícios à sua fixação. Nela encontraram água e um porto de abrigo.
Foi na zona da actual Igreja de Santa Cruz que os fundadores da Vila da Lagoa se fixaram (junto a uma lagoa ali existente, razão do nome atribuído ao povoado).
Ao longo do séc. XV, a população da ilha não cessa de aumentar e na Lagoa o seu povoado foi-se desenvolvendo para oeste, em direcção a uma baía que acolheu os primeiros barcos de pesca: o Porto dos Carneiros.




A leste da Vila de Lagoa foram-se fixando algumas famílias atraídas por prometedoras terras de cultivo e um excelente curso de água – Água de Pau.
A 11 de Abril de 1522 a Lagoa é elevada a Vila e sede de Concelho, altura em que já contava com 1600 habitantes e 300 habitações.


Em 1522 quando a Lagoa foi elevada a Vila era considerada uma das melhores regiões agrícolas da ilha, predominando as culturas de trigo, do pastel e do vinho. O seu porto desempenhava um papel importante na actividade económica (exportação de trigo e venda de peixe).
Entretanto, a introdução da cultura de laranja e a subsequente exportação para a Europa fez prosperar a Vila de Lagoa e Água de Pau. A construção de moradias intensifica-se assim como solares e capelas.


A prosperidade acentuou-se no séc. XIX quando a Vila de Lagoa viu surgir fábricas de cerâmica e destilação de álcool.
No séc. XX, surgiram novas fábricas, designadamente de óleo vegetal, sabão e de ração para animais.


A exploração agro-pecuária e a pesca também ganharam expressão no Concelho.
No final do séc. XX e na actualidade o sector terciário assume-se como o principal empregador do Concelho (58,2% da população activa) e o número de empresas deste sector sedeadas na Lagoa, cresceu na ordem dos 17,2%, de 2001 para 2004.
Na actualidade, pode-se afirmar que a Lagoa começa a despontar para o desenvolvimento turístico e as empresas de serviços começam a crescer em número e em importância na economia do Concelho.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

História Completa - Açores - Portugal

Os Açores são um arquipélago descoberto e povoado por portugueses no princípio do século XV.

O Arquipélago é constituído por nove ilhas situadas a um terço do caminho entre a Europa e a América do Norte.

Localizado sobre a dorsal médio-atlântica (conjunto de falhas que separam as placas tectónicas da Europa e da América), os Açores têm o único vulcão activo (presentemente adormecido) do território nacional, bem como vários vulcões submarinos e o ponto mais alto do País - o Pico (2 351 m).

Possuem ainda um dos mais belos lagos em crateras vulcânicas - a Lagoa das Sete Cidades.

Uma das suas ilhas, o Pico, onde durante séculos se caçaram baleias por métodos artesanais, é hoje um local de importância mundial para a observação e estudo destes mamíferos marinhos.

Embora desconhecendo-se a data precisa da descoberta do arquipélago dos Açores, os relatos históricos apontam Santa Maria e São Miguel como as primeiras ilhas a serem reconhecidas, por volta do ano de 1427, pelo navegador português Diogo de Silves, que terá feito um primeiro reconhecimento do seu litoral.

Anos mais tarde, a 15 de Agosto de 1432, dia da Assunção de Nossa Senhora, Gonçalo Velho Cabral, com a dúzia de tripulantes que consigo trazia na minúscula caravela com que atravessara as águas do oceano, chega e desembarca na ilha a que daria o nome de Santa Maria, em homenagem à Virgem Santa.

O povoamento da ilha, a primeira dos Açores a ser povoada, deu-se no ano de 1439, fixando-se os primeiros povoadores na Praia dos Lobos, ao longo da Ribeira do Capitão. Mais tarde e com o intuito de dar novo impulso ao povoamento da ilha, João Soares de Albergaria, sobrinho do primeiro capitão-donatário de Santa Maria, Gonçalo Velho, e seu herdeiro, traz para ela algumas famílias do continente, sobretudo do Algarve, registando-se assim um grande desenvolvimento da ilha, o que leva à concessão do primeiro foral de vila nos Açores, ficando a respectiva localidade conhecida como Vila do Porto, ainda hoje o mais importante e principal centro urbano da ilha.


Gaspar Corte Real

Foi em Santa Maria que Cristovão Colombo fez escala, no regresso da sua primeira viagem à América, em 1493, desembarcando perto do lugar dos Anjos a fim de cumprir uma promessa feita em alto mar, a de ouvir missa numa igreja de devoção a Nossa Senhora, na primeira terra que a encontrasse. Após o desembarque, tendo sido tomado por pirata, foi feito prisioneiro às ordens do Governador da ilha, só sendo libertado após esclarecer as verdadeiras razões da sua escala.
Quanto ao povoamento de São Miguel os relatos apontam o seu início para o ano de 1444, por Gonçalo Velho Cabral, desembarcando os seus povoadores no lugar da Povoação, oriundos sobretudo da Estremadura, Alto Alentejo, Algarve e mesmo alguns estrangeiros, nomeadamente franceses, espalhando-se depois, com o correr dos anos, ao longo de toda a zona costeira da ilha e fixando-se nos locais de melhor acessibilidade e que melhores condições e facilidades de vida ofereciam, essencialmente no que se referia ao aproveitamento do solo.

A fertilidade deste, aliada à priveligiada posição geográfica das ilhas no meio do Atlântico, rapidamente contribuiram para uma forte expansão económica de São Miguel através, da produção do trigo que se exportava para abastecimento das guarnições portuguesas das praças do Norte de África, do fabrico do açúcar de cana e da exportação para a Flandres das plantas tintureiras do pastel e da urzela. Mais tarde, a grande proliferação de laranjais traz para a ilha significativa riqueza pela exportação de laranja, cujo principal mercado era a Inglaterra.

Almeida Garett


Palco nos finais do séc.XVI e princípios do séc.XVII de ataques de corsários franceses, ingleses e argelinos, em 1582 São Miguel é ocupada por tropas espanholas, após a derrota, em frente a Vila Franca do Campo, duma esquadra francesa em que também combatiam tropas portuguesas de apoio a D.António, prior do Crato, pretendente ao trono de Portugal então vago, só recuperando a sua condição de território português livre após a Restauração da Independência Nacional, em Dezembro de 1640.

A primeira capital de São Miguel foi Vila Franca do Campo, que perdeu essa condição após ter sido soterrada na sequência de um violento terramoto sentido em 1522, surgindo em sua substituição Ponta Delgada, localidade situada cerca de 25 Km para leste, já então sede de município e que, em 1546, viria a tornar-se na primeira cidade da ilha. Já nos nossos dias, mais propriamente em 1981, a Ribeira Grande, povoação que em 1507 recebera de D. Manuel o foral de vila e que se localiza na costa norte de São Miguel a 18 Km de Ponta Delgada, é elevada à categoria de cidade.

A terceira ilha dos Açores a ser descoberta designava-se inicialmente por Ilha de Jesus Cristo, adoptando, posterior e definitivamente, o nome de Terceira. A concessão da sua capitania foi feita pelo Infante D.Henrique ao flamengo Jácome de Bruges que, por volta de 1450, iniciou o seu povoamento, fixando-se os primeiros povoadores nas áreas de Porto Judeu e Praia da Vitória e estendendo-se posteriormente, tal como acontecera em São Miguel, a toda a periferia da ilha. A Terceira representa um marco importante na História de Portugal pois, aquando da sucessão ao trono português do rei Filipe II de Espanha em 1580, tomou firmemente o partido de D.António, prior do Crato, pretendente àquele trono. Resistindo galhardamente à tentativa de conquista da ilha pelos espanhóis, em 1581 o primeiro desembarque das tropas de Filipe II é totalmente derrotado na célebre batalha da Salga. Porém, dois anos mais tarde e após violentos combates, não consegue resistir a novo ataque da tropa espanhola, agora com um contingente muito superior comandado por D. Álvaro de Bazan, que ocupa a ilha, tornando-se assim esta na última parcela do território português a render-se à soberania espanhola.


Monumento aos baleeiros, em São Roque do Pico.


Durante o período em que esteve sob o domínio filipino, de 1583 a 1640, a Terceira que já então detinha posição de destaque como entreposto marítimo das rotas das Índias, adquire renovada importância como porto de escala dos galeões espanhóis que, do Perú e do México, transportavam fabulosas riquezas em ouro e prata, em direcção a Cádiz, privilegiando por isso o Império Espanhol as suas relações com a Ilha, naquela época. Na primeira metade do séc.XIX, a Terceira volta a assumir papel preponderante na História portuguesa: apoiando desde 1820 a causa liberal, em 1829 os Absolutistas são dominados após violenta batalha travada na baia da Vila da Praia, em que as tropas miguelistas foram derrotadas quando tentavam desembarcar na ilha.

A Vila da Praia passara por isso, a chamar-se Praia da Vitória e Angra, pelo espírito de sacrifício e patriotismo demonstrados recebe a designação de Angra do Heroísmo. A regência do reino é instalada em Angra e depois da conquista das restantes ilhas para a causa da Terceira, partem em direcção ao continente, em 1832, a armada e o exército que, desembarcando no Mindelo, proclamam a Carta Constitucional em todo o País. Angra do Heroísmo, a primeira cidade a ser criada nos Açores, em 1534 e sede da diocese açoriana, possui um património arquitectónico de grande valor, o que lhe mereceu ver incluída na lista do Património Mundial da UNESCO uma vasta zona de 6 Km2 (1983).



D. Dinis - Protectoros Navegantes - São Roque

O seu rico património sofreu duro golpe ao ser grandemente destruído por um violento sismo ocorrido em 1 de Janeiro de 1980, mas a forte determinação dos responsavéis pelo sua reconstrução levou a que os edifícios e monumentos então danificados, mantenham hoje a sua traça inicial.
Praia da Vitória, centro urbano situado na costa Leste da Terceira, a cerca de 22 Km de Angra, onde se localiza um amplo porto oceânico e, a 3 Km, um importante e estratégico aeroporto, com funções civis e militares, recebeu o título de cidade em 1981. Não existindo dados precisos sobre a data do descobrimento da Graciosa, é muito provavél que esta ilha tivesse sido pela primeira vez localizada por mareantes da vizinha Terceira, que lhe fica a 31 milhas marítimas para sudeste, por volta do ano de 1450. Iniciou o seu povoamento, também em data não determinada, Vasco Gil Sodré, um continental natural de Montemor-o-Velho que, com sua mulher, filhos e criados aportou ao Carapacho, local onde se fixou e construiu a sua casa, daí partindo para o desbravamento da ilha, no que foi pioneiro.

Não obstante ter construído uma alfândega e feito outras diligências para que lhe fosse doada a capitania da ilha, a Pedro Correia da Cunha, concunhado de Cristovão Colombo, foi confiada a capitania da parte norte da Graciosa e a Duarte Barreto, a da parte sul. O aumento da população da ilha, resultado sobretudo da vinda de gentes das Beiras, do Minho e da Flandres, reflecte-se na sua prosperidade, o que leva Santa Cruz a receber o foral de vila em 1486, recebendo a Praia, 60 anos mais tarde, igual mercê. Virada desde os primórdios do povoamento para a agricultura e para a plantação de vinhas, já no séc.XVI a Graciosa exportava trigo, cevada, vinho e aguardente, privilegiando todo o seu comércio com a Terceira, ilha que lhe ficava mais próximo e que possuia um amplo porto muito frequentado por navios de grande porte e que, além disso, na época era um importante centro económico e administrativo dos Açores.
Nos sécs.XVIII e XIX, a Graciosa foi anfitriã de proeminentes figuras da época, como o escritor francês Chateaubriand na sua fuga para a América durante a Revolução Francesa, o grande poeta português Almeida Garrett, então jovem de visita a seu tio e que na ilha escreve já versos que revelam o seu talento e o príncipe Alberto de Mónaco, notável pela sua dedicação a trabalhos de hidrografia e estudos da vida marinha, que chegou à ilha a bordo do seu famoso iate “Hirondelle”, nela tendo visitado a furna da Caldeira.
A data da descoberta e povoamento de São Jorge é uma incógnita, remontando ao ano de 1439 a primeira referência conhecida da ilha. Em 1443 esta era já habitada, mas o seu povoamento tem grande incremento com a chegada à ilha do nobre flamengo Wilhelm van der Haegen, que desembarcou no Topo e aí criou uma povoação, onde mais tarde viria a falecer, já então conhecido por Guilherme da Silveira. A capitania da ilha foi doada em 1483 a João Vaz Corte Real e o primeiro foral de vila em São Jorge foi atribuído, antes do final do séc.XV, à localidade de Velas. Assentando basicamente a sua economia na vinha e na produção de trigo além do pastel e da urzela que eram exportadas para a Flandres e outros países da Europa para uso na tinturaria, São Jorge prospera e, em 1510 e 1534 respectivamente, Topo e Calheta eram já sedes de concelho.




No período conturbado da subida ao trono português do rei Filipe II de Espanha, tal como a Terceira, São Jorge apoia incondicionalmente D.António, prior do Crato, capitulando frente aos espanhóis após a queda daquela ilha. Como outras do arquipélago, São Jorge foi também palco de ataques de corsários ingleses e franceses e cobiça dos piratas turcos e argelinos, ao longo dos sécs.XVI, XVII e XVIII.
Desconhecendo-se igualmente a data exacta da descoberta da ilha do Pico, sabe-se no entanto que o seu povoamento teve início por volta do ano de 1460, com naturais do norte de Portugal, no lugar das Lajes, posteriormente primeira vila e sede de concelho da ilha. Dedicando-se inicialmente os seus habitantes à produção de trigo e à exportação de pastel, após laborioso trabalho na transformação de extensos campos de lava em fertéis pomares e produtivos vinhedos, os picoenses voltam-se para a produção do famoso “Verdelho do Pico”, que atinge fama internacional, durante mais de 2 séculos, chegando mesmo a ser muito apreciado e consumido na mesa dos czares da Rússia. Um forte ataque de oídio, em meados do séc.XIX, destruiu praticamente todas as plantações de vinha, afectando sobre maneira a economia da ilha. Além da vinha, outra importante fonte de riqueza das gentes do Pico durante muitos anos foi a caça ao cachalote, actividade em que os picoenses eram exímios artesãos. Hoje, por força das leis internacionais de protecção àquela espécie, esta actividade é apenas uma grata recordação dos “Lobos do Mar”, orgulhosamente retratada no Museu dos Baleeiros, nas Lajes do Pico.

As vilas de São Roque, desde 1542 e da Madalena, desde 1723 são, os dois centros sede de concelho da Ilha Montanha, como também é conhecido o Pico. Designada nas antigas cartas e portulanos por Insule de Venture, a ilha do Faial só foi descoberta na primeira metade do séc.XV, embora ao certo não se saiba qual o ano. Do seu povoamento sabe-se que teve início antes de 1460, por povoadores vindo do norte de Portugal, que se terão instalado no lugar que hoje constitui a freguesia dos Cedros, na costa norte da ilha.
Alguns anos mais tarde, o fidalgo flamengo Josse Van Huerter, acompanhado de um grupo de compatriotas seus, desembarca no Faial, em busca do estanho e da prata que nela julgava existir e, apesar da desilusão de sua não existência, mas entusiasmado com a ilha, aí se instala, acabando mesmo por conseguir, em 1468, a carta de donatário da mesma. É então que trás da Flandres mais colonos, que se vão instalar no vale que hoje é conhecido por Vale dos Flamengos e onde se situa a freguesia do mesmo nome, perpetuando assim a sua fixação no lugar.
A agricultura e exportação do pastel são então as principais actividades da ilha. Nas lutas entre Liberais e Absolutistas no princípio do séc.XIX os faialenses apoiam os primeiros, combatendo valorosamente as tropas Miguelistas e contribuindo inclusivamente com um arsenal que viria a abastecer a frota que desembarcou no Mindelo. D.Pedro IV chega mesmo a visitar o Faial em 1832.
À Horta, elevada a cidade em 1833 em reconhecimento dos serviços prestados à causa liberal, chegou em 1919 o primeiro hidroavião a realizar a travessia do Atlântico e no Faial pela sua extraordinária situação geográfica, foram instaladas estações de cabos submarinos inter-continentais de nacionalidade inglesa, americana, francesa, alemã e italiana.

O porto da Horta construído em 1876, serviu de abrigo à frota aliada que participou na histórica invasão da Normandia, em 1944 durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Em 1957, precedida de uma crise sísmica que durou 12 dias e em que foram sentidos mais de 200 abalos de terra, entrou em erupção o Vulcão dos Capelinhos, com a cratera principal localizada a cerca de 1 Km ao largo da ponta oeste do Faial e cuja actividade durou 13 meses, durante os quais foram projectadas milhares de toneladas de cinzas negras que acumulando-se acrescentaram à superfície da ilha, 2,4 Km2 de terra firme. As duas últimas, e mais ocidentais, ilhas do arquipélago dos Açores a serem descobertas foram as Flores e o Corvo, tendo sido reconhecidas por Diogo de Teive e seu filho João de Teive, por volta do ano de 1452.
Inicialmente denominada de São Tomás ou de Santa Iria, devido à grande abundância de flores amarelas - cubres - que revestiam toda a ilha, esta adaptou o nome por que hoje é conhecida: Ilha das Flores.
Ao fidalgo flamengo Wilhelm Van der Haegen é atribuído o início do povoamento das Flores, no ano de 1470, no Vale da Ribeira da Cruz mas o afastamento da ilha em relação às outras do arquipélago aliado à inexistência de ligações marítimas regulares que permitissem a exportação do pastel para a Flandres, levaram a que aquele fidalgo a abandonasse, indo então fixar-se em São Jorge.
Em princípios do séc.XVI, novo incremento é dado ao povoamento da ilha, cujas terras são arroteadas para a produção de trigo, cevada, milho e legumes, produtos destinados sobretudo ao consumo interno. Em 1515 o lugar das Lajes recebe o foral de vila para, em 1548, Santa Cruz receber idêntica mercê.

A ilha do Corvo conhecida anteriormente por Insula Corvi Marini, é a mais pequena do arquipélago com apenas 17 Km2 de superfície e tem vivido à base de uma agro-pastorícia com características muito próprias, que se tem mantido até aos nossos dias, embora com algumas modificações. A presença de baleeiros americanos nos mares dos Açores no final do séc.XVIII e XIX, foi chamariz dos corvinos que, na actividade da caça ao cachalote, foram conhecidos pela sua valentia, sendo por isso muito procurados para tripulantes de navios baleeiros. Seduzidos por melhores condições de vida, muitos desses tripulantes deixaram-se ficar por terras americanas, o que levou a que os índices de emigração de gentes do Corvo atingissem altos valores. Hoje, a Vila Nova do Corvo, único centro urbano da ilha e sede de concelho desde 1832, alberga uma população de cerca de 370 habitantes.

Relevo e Morfologia - São Miguel - Açores - Portugal

A formação dos Açores está relacionada com a evolução geodinâmica do Atlântico Norte. O arquipélago posiciona-se na região onde contactam as placas litosféricas americana, euro-asiática e africana. As ilhas emergem de uma vasta plataforma triangular, com cerca de 5,8 milhões de Km2 (RIDLEY et al., 1974).



As ilhas dos Açores exibem aspectos geomorfológicos muito diversificados, consoante os tipos de erupções que estiveram na sua origem, a idade e consequente estado mais ou menos avançado dos processos de erosão (DREPA, 1988). O vulcanismo e a tectónica regional e local explicam a disposição e o alinhamento dos edifícios insulares; as formas de relevo reflectem os estilos eruptivos (efusivos e explosivos), a dinâmica evolutiva e a actuação dos agentes erosivos. Os níveis de alteração dependem da natureza dos materiais, da topografia das vertentes e das condições climáticas (NUNES, 1998).

A paisagem dos Açores é caracterizada, em traços gerais, por uma orografia vigorosa e movimentada, onde a elevada altitude está associada ao acidentado do relevo. As ilhas emergem bruscamente do oceano, apresentando grande desenvolvimento vertical. O interior montanhoso encontra-se sulcado por profundas ravinas, que rasgam as encostas até ao nível do mar.

As áreas planas são pouco desenvolvidas, sem grande representação no território insular. Os casos a destacar ocorrem em Santa Maria (sector Oeste), São Miguel (região de Ponta Delgada e Graben da Ribeira Grande) e Terceira (Graben da Praia da Vitória). As regiões planálticas têm alguma importância nas Flores (Planalto Central), Pico (Planalto da Achada) e na metade Oeste de São Miguel (Planalto dos Graminhais e Achada das Furnas).


A altitude máxima das ilhas é bastante variável, oscilando entre 402 m na Graciosa e 2 351 m na montanha do Pico, ponto mais alto de Portugal. A ilha do Pico constitui a ilha mais excêntrica em termos altimétricos com 16% da sua área acima dos 800m.

Uma das marcas mais impressionantes da paisagem das ilhas são as magníficas lagoas que se desenvolveram nas crateras de abatimento.

Fabrica de Chá Gorreana - São Miguel - Açores

Portugal parece ter ainda tesouros por descobrir. Um deles, do qual muitos portugueses nunca ouviram falar, é o Chá Gorreana. Esta apreciada bebida cultivada cá, mais concretamente na ilha de S. Miguel, nos Açores, foi durante muitos anos a única plantação de chá da Europa. Na actualidade, a fábrica Gorreana continua a produzir, apesar das muitas dificuldades (sempre ultrapassadas). A história da introdução do chá em S. Miguel, confunde-se com a da vida das famílias micaelenses.

Neste momento é a família Mota e, mais preponderantemente, Armando Mota, quem impulsiona a plantação. O chá aparece na ilha pelas mãos de Jacinto Leite (micaelense) por volta de 1820, que traz as sementes do Brasil. O seu cultivo foi depois incentivado pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, que, como resposta à crise da laranja (em meados do século passado), mandou vir em 1878, dois chineses para S.Miguel. Estes trouxeram mais semente para a plantação e ensinaram as complexas tarefas da sua preparação.

A plantação da Gorreana inicia a sua produção em 1874 e, em 1883, consegue o primeiro quilo de chá seco. Assim surge o chá Gorreana, pelas mãos de Hermelinda Pacheco Gago da Câmara. E apesar dos filhos que teve, o Gorrreana acaba por ficar para a sua neta Angelina. É ela que vem a casar com Jaime Hintze (s sua família, de origem alemã, veio para Portugal no século XVIII) que se entregou à plantação e proporcionou o seu crescimento. Jaime construiu ainda a Central hidroeléctrica; se não fosse esta medida, talvez o Gorreana não tivesse sobrevivido.



As outras plantações e fábricas não tinham este recurso, ficando apenas com a máquina a vapor. Isto tornou-se limitativo, tanto no preço da energia, como no recurso à mecanização, dado que só em meados dos anos sessenta houve distribuição de energia elétrica nas aldeias. Além disso, Jaime foi o primeiro fabricante Açoriano a conseguir a marca registada em pacotes.

O filho de Jaime e Argelina, Fernando, casa com Berta Ferreira Meireles. E continua a obra do pai, comprando grande parte das máquinas que, estão ainda em funcionamento. Mas vai mais mais longe e constrói uma central termoeléctrica, uma alternativa à hidroeléctrica. Fernando morre muito novo, deixando apenas uma filha, Margarida Hintze. Em 1966, Margarida casa com Hermano Mota.

O actual impulsionador do Gorreana, de 59 anos, já tinha estado ligado a esta planta, a sua família produzia o Chá Corte Real. Mas era apenas uma plantação e o seu pai pagava às fábricas a sua utilização. Quando todas fecharam, porque a produção de leite era mais fácil (devido à falta de electricidade), o Chá Corte Real acabou.


Toneladas e toneladas de chá.

O chá teve produções significativas nas primeiras décadas deste século. Na ordem das 700 toneladas por ano. No entanto, as restrições às trocas com o exterior, durante as duas grandes guerras, fizeram com que houvesse um maior investimento noutras culturas mais necessárias à subsistência . E o declínio da produção de chá foi inevitável. Dos anos 80 até há bem pouco tempo, a Gorreana era a única fábrica de chá da Europa. Mas em tempos houve cerca de 15 em S. Miguel.


Até 1976, vendia cerca de 80 toneladas ao Continente, mas um dia a casa que fazia a distribuição fechou e o Gorreana saíu do mercado. A fábrica já passou por diversas dificuldades, a mais recente foi quando apareceram as grandes superfícies, há cerca de dez anos. “Nos primeiros dois anos, prejudicaram bastante, a venda baixou quase 43%. Houve uma mudança de hábitos, as pessoas foram aliciadas por outros produtos, por outras bebidas, mais do que por outros chás. Com o tempo, a euforia parece ter passado e voltam agora ao chá. Conseguimos atingir os valores que tínhamos antes de aparecerem as grandes superfícies. E vendemos também para os hipermercados, mas mantém-se a nossa presença no mercado tradicional.”

Entretanto há cerca de um ano, surgiu a concorrência. Mas Hermano Mota não notou qualquer diferença nas vendas, “até é capaz de ajudar, visto que se fala mais no chá dos Açores,” Outro grande impulso tem sido o contacto directo dos clientes com a fábrica: “se não fossem as visitas à fábrica e o aumento considerável de turismo, julgo que já não haveria chá nos Açores. É mais uma venda. As pessoas passam a conhecer e o “passa-palavra” tem sido muito importante”. A venda directa na fábrica representa 5% das totais.


A plantação tem 32 hectares e, actualmente, a produção anda à volta das 33 toneladas por ano (mas tem capacidade para 40). Este ano o objectivo é chegar às 35. A maior fatia da produção destina-se ao consumo da Região, mas há ainda uma parcela de duas toneladas para o Continente, quatro para a Alemanha (o país da Europa onde o consumo de chá tem aumentado mais per capita), cerca de para os EUA e Canadá, e ainda perto de seiscentos quilos para a Áustria.

É preciso ter em conta que para os EUA e para o Canadá vai muito mais chá, que é levado pelos micaelenses, depois de passarem as suas férias na terra natal. O clima dos Açores ajuda a planta do chá – Camellia sinensis – porque lhe dá a água que ela precisa. “Temos chuvas bem distribuídas ao longo do ano. O chá precisa de pelo menos, 30 milímetros de água por mês.
Felizmente não temos geadas, que queimam as folhas e o sol não é demasiado intenso, há sempre umas nuvens”, explica o proprietário.

Além disso, o solo argiloso e ácido dá origem a um chá muito perfumado e de travo agradável. O Chá Gorreana é ainda apreciado por ser um produto ecológico, livre de pesticidas, herbicidas e fungicidas.

Nos países onde há a estação das chuvas, há mosquitos e a mosca do chá, que picam ou mordem o gomo terminal e a folha não se desenvolve. Daí que têm de fazer aplicações de insecticidas. Por outro lado, nos países da estação seca, há o aranhiço vermelho, que também tem de ser combatido com insecticidas. E às vezes ainda precisam de usar fungicidas. Nós não temos nem a estação seca nem a da chuva” explica Hermano Mota.

O chá é produzido pelo método Hysson (através de vapor) e é um chá “ortodoxo” ou “tradicional” - as folhas são enroladas e, depois de secas, a maioria está inteira. Segundo o proprietário, o chá tem “ um paladar mito agradável e um aroma mais forte do que a generalidade dos chás comercializados” Da fábrica sai o tradicional chá preto, o muito em voga chá verde e ainda, por encomenda, o semifermentado (soochong, oolong e poochong).

Dentro do chá preto há três variedades: o Orange Pekoe (feito do gomo terminal e a primeira folha), o Pekoe (da segunda folha) e o Broken Leaf (da terceira que é mais rija porque não enrolou). Dentro do verde, para além do mais comum, fazemos o chá pérola, muito semelhante ao Gun Powder (chinês), em que as folhas estão mais tempo no vapor e o enrolador enrola por si.


Um fenómeno curioso que Hermano Mota relata é a procura desenfreada pelo chá verde. Actualmente, a Gorreana já produz 12 toneladas por ano desta variedade. Até há cinco anos só eram feitos à volta de 700 kilos e apenas para consumo nas ilhas. Antigamente na Europa, praticamente só se bebia chá verde. Mas depois da II Grande Guerra, a imprensa divulgou alguns perigos do chá verde, porque era feito em máquinas de cobre.

E o chá preto veio substituí-lo. Recentemente começaram a aparecer os estudos que provam que os antioxidantes (presentes no chá) ajudam a prevenir o cancro. Hoje em dia, os cilindros onde se aquecem as folhas do chá com o vapor de água são de madeira.

Hermano Mota, o especialista, revelou qual o chá que escolhe para cada ocasião: “quando bebo o chá das cinco gosto do Orange Pekoe. Para pequeno-almoço e para acompanhar uma refeição (com os carapaus fritos, que é um prato muito típico cá em casa) prefiro o Pekoe. A seguir a uma grande festança e a uma comida farta, gosto do verde, que é muito digestivo”.

Este é, sem dúvida, um negócio de família, visto que conta com a ajuda de todos. Aos fins-de-semana, por exemplo, a tarefa de receber as visitas turísticas é repartida por todos. E a continuação do chá Gorreana parece já estar assegurada. Dos cinco filhos que tiveram, já dois se interessaram pela plantação. André, 32 anos, e Tiago, 24, são os entusiastas. O Tiago ainda estuda, mas dedica-se muito à fábrica. O André ocupa-se mais da exploração leiteira. Assim, garantem a continuação do tradicional chá dos Açores.


O chá das cinco.

Segundo uma lenda chinesa, o chá foi descoberto pelo imperador Shen-Nung por volta do ano 2737 a.C. No continente europeu a introdução do chá é claramente atribuída aos portugueses, em 1560, através das trocas comerciais que mantinham com Macau. E foi daqui que surgiu para outros países da Europa levado pela Companhia Holandesa das Índias Orientais. Também a Grã-Bretanha se tornou um país de enorme consumo através da influencia portuguesa. Foi a princesa Catarina de Bragança, mulher do rei D. Carlos II, uma grande apreciadora do chá, que, em 1662, o difundiu na corte inglesa. É ainda em terras que surge o hábito de beber o “chá das cinco”, impulsionado pela duquesa de Bedford, para eliminar uma sensação de fraqueza.

O Ananás da ilha de São Miguel - Açores - Portugal

A SUA HISTÓRIA
O ananás (Ananassa Sativus,Lindl) cultivado em estufas de vidro na ilha de São Miguel é originário da América Central e do Sul e foi introduzido nesta ilha, como planta ornamental, em meados do século XIX.A sua cultura visou primeiramente o abastecimento das casas abastadas, tendo as primeiras explorações de caracter comercial surgido em 1864. Com o correr dos anos este excepcional fruto transformou-se num verdadeiro ex-libris da região.Os concelhos de Ponta Delgada, Lagoa, Vila Franca a Ribeira Grande são em ordem decrescente os seus principais centros produtores, sendo a Fajã de Baixo a freguesia com maior número de estufas.


AS ESTUFAS
São de formato rectangular, cobertas de vidro caiado formando duas águas com a inclinação aproximada de 33 ° e aquecidas apenas pelo sol. Na parte superior da cobertura as janelas, ou "alboios", servem para regular a temperatura e a ventilação do interior da estufa. O interior da estufa divide-se em "tabuleiros", ou "canteiros", separados ao meio por um carreiro de pedra, estes por sua vez dividem-se em vãos (o espaço que vai de ferro a ferro de suporte da cobertura).

A CULTURA DO ANANÁS
1 ° período da cultura:
Nos "estufins", estufas mais pequenas, plantam-se as tocas a uma distancia de l0 cm entre cada uma e cobrem-se de terra. Regasse então diariamente nos primeiros quinze dias e depois em dias alternados. Nesta fase é importante não deixar a temperatura abaixo dos 26 ° C fazendo-a subir até aos 38 ° C. Ao fim de um mês os "brolhos" despontam desenvolvendo-se no estufim até seis meses sendo depois transplantados para as estufas.Tanto no estufim como na estufa é preparada uma "cama" para o enchimento dos tabuleiros. As camas fazem-se com a sobreposição de varias camadas de terra velha (já usada noutras estufas, rica em matéria orgânica), mondas (folhas de ananases, fetos, ervas, caruma de pinheiro), rama de incenseiro e farelo.

2 ° período da cultura:
Nas estufas o plantio dispõe-se de maneira a que cada planta fique a uma distancia de 50 a 60cm umas das outras. Após a plantação rega-se diariamente durante duas semanas, durante o crescimento do fruto as regas diminuem até se extinguirem na fase de maturação. 3 a 4 meses depois de plantada a estufa tem lugar a operação do "fumo". Esta operação, descoberta ocasionalmente, funciona como uma intoxicação o que obriga todas as plantas a florescerem ao mesmo tempo. Ao fim do dia (quatro a oito dias no verso, oito a quinze no inverno) queimam-se em recipientes próprios colocados no interior da estufa, aparas e verduras de modo a produzir um espesso fumo, no dia seguinte abrem-se as portas e os alboios para arejar.O período completo da cultura, que vai desde a plantação das tocas até ao corte do fruto tem a duração de 18 meses.

A gastronomia Tradicional - São Miguel - Açores - Portugal

As velhas receitas tradicionais mantêm-se em pratos suculentos, como o caldo azedo, couves solteiras, os fervedouros, o polvo guisado em vinho de cheiro, os torresmos em molho de fígado, as caldeiradas de peixe, o arroz de lapas, o ensopado de trutas, as lapas de molho Afonso, a que se deve juntar o sempre curioso cozido das Furnas, em que o tacho contendo as carnes e os legumes é enterrado envolto num saco para que o calor vulcânico actue, e passadas algumas horas está pronto a deliciar o paladar com o seu sabor.


Lagosta, cavaco, caranguejos e as estranhas cracas, escondidas nos orifícios que escavam nas pedras, satisfazem os apreciadores de mariscos. No que respeita a queijos, São Miguel oferece o branco e macio queijo de cabra fresco e o queijo da Ilha, de sabor picante quando seco.

A antiga doçaria conventual faz as delícias dos gulosos nas queijadas de Vila Franca do Campo, nos confeitos da Ribeira Grande, no bolo lêvedo das Fumas, na barriga-de-freira, massa sovada, bichos de amêndoa e compota de capucho, pequeno fruto de uma planta herbácea.

A região da Caloura produz vinho de cheiro, ou morangueiro, com perfume característico e pouco encorpado. Os licores de maracujá e de ananás são formas agradáveis de terminar uma refeição.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

As Cavalhadas de São Pedro - Ribeira Seca - São Miguel - Açores - Portugal

As Cavalhadas da Ribeira Seca da Ribeira Grande são uma das tradições mais notáveis e famosas dos Açores. O nome deriva do Castelhano caballadas (de caballo), que se refere a vários tipos de provas de destreza equestre. Câmara Cascudo, no Dicionário de Folclore Brasileiro, define cavalhada como desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogos de canas, jogo de argolinhas. As cavalhadas subsistem em muitas partes do Brasil, e as de Pirenópolis, no Estado de Goiás, ligadas às festas do Espírito Santo, seguem a tradição europeia da dramatização da luta de Rolando contra os Mouros, em Roncesvales, a célebre gesta dos Doze Pares de França.

As primeiras cavalhadas de Pirenópolis aconteceram em 1826, sendo a maior parte dos seus habitantes oriunda do Norte de Portugal. Em Vildemoinhos, perto de Viseu, mantêm-se como desfile de cavaleiros vestidos de fato escuro e montando cavalos ajaezados. Resultam, segundo a tradição, de uma promessa feita a São João Baptista pelos moleiros, no caso de conseguirem sentença favorável de água para os seus moinhos, havendo quem pense que têm influência das Cavalhadas da Ribeira Seca.

A primeira destas romagens à capela do santo, com os cavaleiros vestindo de negro, como os nobres, e com os cavalos ajaezados, terá sido em 1652. No entanto, no século XX passaram a incluir carros alegóricos, bandas de música, ranchos folclóricos e muitos outros elementos que não faziam parte da tradição. Há a opinião generalizada de que as Cavalhadas da Ribeira Seca terão sido inspiradas nos jogos de canas. No entanto, essa influência, se realmente existiu, talvez não tenha ido além do facto de se tratar de um desfile de cavaleiros, vestidos com trajes coloridos e montando cavalos ajaezados.

Os jogos de canas consistiam numa simulação de luta entre dois grupos de cavaleiros, e eram assim chamados por ser uma cana que servia de lança de arremesso ou dardo. Para se defenderem, os cavaleiros usavam um escudo pequeno e redondo de coiro, a adarga. Há notícia de alguns destes combates realizados em São Miguel, sendo aquele de que se conhecem mais pormenores o que organizou o quinto Capitão da ilha, Rui Gonçalves da Câmara, o segundo que houve com este nome.



Foi num dia de Páscoa, pouco tempo depois da subversão de Vila Franca do Campo em 1522. A folgança destinou-se a divertir a população de São Miguel, ainda muito abalada pelos trágicos acontecimentos daquela noite de 22 de Outubro. Os contendores de Ponta Delgada e da Lagoa lutaram contra cavaleiros da Ribeira Grande – a que se juntou alguma gente de Rabo de Peixe –, de Água de Pau e de Vila Franca. Vestiam trajes coloridos de seda, veludo e outros tecidos nobres. Os de Vila Franca, em sinal de luto, usaram apenas o preto e o roxo.

Os cavalos, e mesmo uma besta que transportou as canas, estavam também ricamente adornados. O combate decorreu num terreno ao longo do mar, na Lagoa, onde o Capitão residiu algum tempo depois da tragédia. Veio muito povo, de toda a ilha, que assistiu num lugar mais alto, de modo a estarem todos protegidos de eventuais pisadelas dos cavalos ou de alguma cana que falhasse o alvo.

Muitos eram os cavaleiros que usavam mais do que um cavalo, porque a luta lhes exigia um grande esforço. Havia arranques e paragens constantes e corridas com mudança de direcção em ângulos apertados, numa espécie de bailado para fugir ao ataque dos adversários ou para tentar apanhá-los desprotegidos. Nesse jogo de canas houve um episódio que serve para perceber como, por vezes, essa simples diversão poderia tornar-se numa luta perigosa. Esteve ali presente o Abade de Moreira, que viveu alguns anos na Ribeira Grande, exímio na arte de cavalgar e de jogar as canas.

Lutador incansável, levou consigo dois cavalos. Um dos adversários com quem lutou foi D. Manuel da Câmara, filho do Capitão, a quem atirou uma cana certeira que o moço defendeu com a adarga. A mãe, D. Filipa Coutinha, exaltou-se muito, considerando que o filho tinha direito a tratamento semelhante ao de El-Rei, a quem as canas não deviam visar o vulto mas ser lançadas por cima da cabeça. E, no seu destempero, gritou que matassem o abade. Este, homem forte e truculento, pegou num dardo e respondeu que viessem matá-lo, mas que antes deixaria ali cinco ou seis caídos para sempre. Mais sensato, Rui Gonçalves da Câmara entendeu que o filho não tinha direito a isenções, e mandou ao abade que lhe atirasse outra cana. A origem das Cavalhadas – e neste ponto é indispensável evocar o Dr. Armando Cortes Rodrigues – é tida como resultante de uma promessa do próprio Capitão, que era então D. Manuel da Câmara e que já voltara a residir em Vila Franca.

A lava da erupção de 1563 destruiu a maior parte da Ribeira Seca da Ribeira Grande, deixando porém intacta a igreja paroquial, dedicada a São Pedro. Apesar da devastação provocada, não houve nenhum morto na ilha por sua causa. D. Manuel da Câmara teria prometido ir cantar em verso a vida do apóstolo à porta da sua igreja, caso a família não sofresse consequências graves. E tê-lo-á feito indo de Vila Franca à Ribeira Seca a cavalo e acompanhado de homens que o serviam e dos mordomos do Espírito Santo.




Ora, mesmo que se tenha por certa esta versão, não se percebe onde estará a dita derivação das Cavalhadas a partir dos jogos de canas. Talvez não mais do que nos trajes usados pelos cavaleiros, em que dominam o branco e o vermelho (as cores do Espírito Santo), pois que D. Manuel da Câmara e o seu séquito terão ido decerto com os ornamentos pessoais e dos cavalos que ostentariam em momentos de gala.

E os jogos de canas eram um desses momentos especiais, tanto mais que costumavam ocorrer em dias de grande festa. A comitiva do Capitão terá dado sete voltas à igreja de S. Pedro, talvez evocando os dons do Espírito Santo, dirigindo-se depois à sua igreja da Misericórdia, para concluir o ritual com uma visita à ermida de Santo André, irmão de S. Pedro. Sem grandes alterações no essencial é este o percurso actual do cortejo, normalmente com mais de uma centena de participantes.

São comandados pelo “Rei”, seguido de perto por três corneteiros que vão anunciando a aproximação e passagem dos cavaleiros. Tornou-se habitual que todo o grupo, que parte do Solar da Mafoma, na Ribeira Seca, visite também a Câmara Municipal, entoando loas à edilidade como reconhecimento pelo apoio que dela recebem.

Os Romeiros da Quaresma - Açores - Portugal

Na 4ª feira de cinzas dá-se início à Quaresma. Durante as 5 semanas que se seguem é comum ver nas estradas de São Miguel grupos de homens caminhando e rezando em voz alta. Estes peregrinos a que se dá o nome de Romeiros, saem às ruas da ilha todos os anos para reafirmar a sua fé e agradecer a Deus as graças concedidas. A tradição terá surgidos em 1522, quando a primeira capital de São Miguel, Vila Franca do Campo foi sacudida por um forte tremor de terra. Seguiu-se uma erupção vulcânica em que dos 4.500 habitantes só sobreviveram 500. Quarenta anos mais tarde outro vulcão surgiu no local onde se situa a Lagoa do Fogo.

Desde então há registo de que todos os anos grupos de homens caminham orando à volta da ilha, cumprindo promessas, é sobretudo a rezar que os dias vão passando, rezar e caminhar.
Durante 1 semana estes homens carregam consigo apenas um saco com o essencial e vão pernoitando em igrejas, escolas ou casas de pessoas que se oferecem para receber os Romeiros. Por vezes as casas de folha (palha) são suficientes para passar a noite. Na casa em que são acolhidos é hábito lavarem-lhe os pés doridos.

O “procurador das almas” é quem fica para trás do cortejo, de modo a receber os pedidos de quem passa por eles na estrada. Os “irmãos” rezam, sendo o “mestre” quem sabe quais as orações apropriadas. O “contramestre” segue a meio do cortejo, na companhia do “lembrador das almas”, enquanto à frente os guias marcam o compasso, dão o ritmo de modo a facilitar a caminhada e a torna-la mais agradável a todos. Os irmãos mais pequenos caminham à frente e levam a cruz.


Trazem todos na mão o bordão de madeira e trajam hábitos tradicionais, carregados de simbolismo. Antigamente andavam descalços, actualmente, utilizam calçado mais confortável. O bordão é feito em pinho, à medida de cada irmão, o do mestre destaca-se dos restantes por possuir uma cruz na extremidade. O xaile representa o manto com que cobriram Jesus; o lenço representa a coroa de espinhos; a saca que transportam às costas representa a cruz e o terço é dedicado à Virgem Maria.

Quando regressam à paróquia, as irmandades despedem-se na chamada “despedida da salvação”, uma festa em que participam todos os habitantes da freguesia.
Passaram oito longos dias de caminhada e fé, de companheirismo e oração. Fecha-se o percurso em círculo no sentido dos ponteiros do relógio, como se uma viagem de eterno retorno se trata-se, uma volta à ilha, uma volta ao mundo.

Festas do Espirito Santo - Açores - Portugal

Os festejos populares do Espírito Santo, entre os açorianos, dentro e fora dos Açores, são consequência de uma das mais bem sucedidas inculturações liturgicas, na vivência das gentes vindas de diversos povos, aglutinados na Fé Cristã. São a pedra de toque, bebidas nas raízes da prática cristã do Amor a Deus traduzido nos pequenos gestos do Amor ao próximo.

Graças às missões populares dos franciscanos, que, no povoamento destas Ilhas, deixaram marcas profundas no coração dos pobres e humildes, que não decoram a teologia dos compêndios, mas percebem nitidamente o essencial da alegria, da partilha fraterna e da Bondade divina, continuada nas Obras de Misericórdia.


Quando há dezassete anos a então Acção Católica Rural de Santa Bárbara das Nove Ribeiras lançou a Primeira Semana Juvenil do Espírito Santo, fê-lo com a missão de transmitir aos mais novos os valores, que os nossos festejos do Espírito Santo fazem emergir.
Felizmente muitos outros grupos pegaram seguiram-lhes as pisadas e, hoje, vemos Casas do Povo, Centros de Convívio, Grupos de Jovens, Escolas e a própria Misericórdia, apostados na vivência da convivialidade das pessoas, na alegria do encontro e na comensalidade dos que partilham o pão e a carne da mesma refeição fraterna.

Alguns conseguem conjugar com graciosidade os terços do Espírito Santo, com a palavra oportuna de uma catequese acessível às diversas idades, sobre o modo de ser e de viver dos cristãos. Mais importantes do que os Triatros do Divino, são os corações dos fiéis que se abre aos dons do Espírito Santo.


Santo Cristo - O Culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres - Acores - Portugal


Numa ilha de vulcões em actividade constante e de sismos frequentes, a devoção era o único refúgio do povo, através do culto do Divino Espírito Santo e ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.

A devoção que Teresa da Anunciada, venerável religiosa do convento de Nossa Senhora da Esperança, tão intensamente sentiu por Cristo, marcou profundamente a alma do povo, de tal modo que o culto ao Senhor, através da procissão com a imagem, se expandiu e fortaleceu ao longo dos séculos.

É, hoje em dia, a maior procissão, a mais grandiosa e a de maior devoção que se realiza em terras portuguesas.
No coração de cada açoriano, disperso pelo mundo, há um altar de culto eterno ao Senhor Santo Cristo, onde as suas preces mantêm permanentemente acesas místicas velas de imperecível devoção e saudade.

Daí a presença de milhares de açorianos que vêm participar, todos os anos, de Portugal, dos Estados Unidos da América, do Canadá e, naturalmente, das outras ilhas, nas grandes festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, numa autêntica e profunda manifestação de fé e devoção.
Semanas antes da procissão, o mosteiro da Esperança e a praça 5 de Outubro são preparados e enfeitados festivamente com milhares de lâmpadas multicores, mastros e bandeiras, flores de todas as espécies e cores que conferem ao recinto um deslumbrante ar de festa.

As festas duram vários dias. Sucedem-se os serviços religiosos e os concertos. Na tarde de sábado, há pessoas que andam à volta da praça de joelhos sobre as pedras do pavimento ou, então, carregadas de círios de cera, num agradecimento pela graça recebida do Senhor numa hora de aflição e sofrimento.

Depois, no domingo, milhares de pessoas incorporam-se na procissão. A abrir, o guião, com a coroa de espinhos dourada, depois duas longas filas de homens com opas, muitos com grossos círios votivos, outros descalços, no cumprimento de promessas, interrompidos por grupos de filarmónicas. Seguem-se associações juvenis transportando guiões de cores garridas, crianças vestidas de anjos, alunos do seminário, o clero micaelense e alguns sacerdotes convidados, todos eles a precederem a venerando imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, transportada sob um docel de veludo e ouro, num trono de lindíssimas flores de seda e pano, tecidas no século XVIII.

Após a veneranda imagem, seguem-se os dignatários da Igreja Católica, representantes das congregações religiosas sediadas em S. Miguel e muitos milhares de senhoras, no cumprimento de promessas.

A fechar o extenso cortejo, seguem-se as mais altas autoridades militares e civis, representações e associações sociais e desportivas.
A grande procissão recolhe, já quase noite, após cinco horas de circulação pelas principais ruas de Ponta Delgada.



O corpo principal do tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres é constituído pelas seguintes jóias: o Resplendor, a Coroa, o Relicário, o Ceptro e as Cordas.

Frutos dos mistérios da Fé, sinais da gratidão dos mortais pelos milagres que os ajudam a caminhar pela vida, o Ex-Libris do Tesouro, o RESPLENDOR é a peça mais rica do espólio. Fotografado e documentado por especialistas internacionais em arte, foi recentemente considerado, num congresso em Valladolid, Espanha, a peça mais valiosa do seu género em toda a Península Ibérica.


O RESPLENDOR, em platina cromada de ouro, pesa 4,850 gramas e está incrustado de 6.842 pedras preciosas de todas as qualidades: topázios, rubis, ametistas, safiras, etc. Além do valor artístico, esta jóia está carregada de elementos simbólicos ligados à teologia. O primeiro é a da Santíssima Trindade, representada por um triângulo no centro que contém três caracteres com o seguinte significado: "Sou o que Sou" e também "Pai, Filho e Espírito Santo".
Deste triângulo irradiam os resplendores para as extremidades da peça. O segundo elemento é a Redenção de Cristo, representada pelo cordeiro sobre a cruz e pelo livro dos Sete Selos do Apocalipse. Um terceiro é a Eucaristia, simbolizada por uma ave, o pelicano, pelo cálice e pelo cibório. O último elemento simbólico do RESPLENDOR é a Paixão de Cristo passando pela coroa representada em pormenor: desde a túnica ao galo da Paixão, passando pela coroa de espinhos integralmente feita de esmeraldas.


Se o Resplendor é a jóia mais rica do Tesouro, a COROA é a sua peça mais delicada. Em ouro, pesando apenas 800 gramas, possui 1.082 pedras preciosas, todas elas trabalhadas com minúcia, onde os próprios espinhos são pequeníssimas pedras que diminuem de tamanho nas extremidades.

O RELICÁRIO é, por outro lado, a peça mais enigmática do Tesouro. É a única que está permanentemente colocada no peito da imagem e serve para guardar o Santo Lenho, que se crê ser uma farpa da verdadeira cruz em que Jesus foi crucificado.

O CEPTRO, a quarta peça do Tesouro, é constituída por 2.000 pérolas que formam uma maçaroca de cana, 993 pedras preciosas ao longo do tronco e no conjunto de brilhantes com renda de ouro na base, onde está colocada a Cruz de Cristo.

Finalmente, as CORDAS, com 5,20 metros de comprimento, constituem a quinta peça do corpo principal do Tesouro. São duas voltas de pérolas e pedras preciosas enroladas em fio de ouro.

Estas jóias possuem um valor incalculável, que ainda não está devidamente avaliado. As Jóias do Senhor Santo Cristo dos Milagres, como também a colecção de capas usadas pela imagem, podem ser admiradas no Convento de Nossa Senhora da Esperança.

Santo Cristo - O Campo de São Francisco - Açores - Portugal

No Convento da Esperança foi edificado, na primeira metade do século XVI, por iniciativa de Filipa Coutinho, viúva do Capitão Donatário Rui Gonçalves da Câmara.Os terrenos necessários para a Igreja e para a cerca haviam sido doados por Fernando Quental e sua mulher, Margarida de Matos.

A linha nascente do Campo de S. Francisco, já na segunda metade do século XVI, teve a orientação actual, porque Cristóvão de Matos Quental, descendente do dito Fernando de Quental, mandara construir, por volta de 1609, nas suas casas, daquele lado, a ermida de Nossa Senhora da Ressurreição, também conhecida por Senhora da Soledade.

No lado poente, no início do século XVI, já havia uma ermida de Nossa Senhora da Conceição, pertencente à Câmara Municipal. No local dessa ermida, foi erguido o primeiro convento de franciscanos, como se lê na "Crónica da Província de S. João Evangelista", de Frei Agostinho de Mont'Alverne. As obras para o actual convento e igreja dos franciscanos começaram em 1709. A parte do convento estendia-se para o lado sul, com um adro mais alto do que a rua.

Com a extinção das ordens religiosas, foi instalado nesta parte sul, o hospital da Santa Casa da Misericórdia, em 1834.
O Campo de São Francisco foi, em tempos antigos, teatro de grandes festas. No final do século XVIII, quando ali já existiam as casas da Família Marques Moreira, então pertencentes ao Dr. António Francisco de Carvalho, realizaram-se grandes festejos para comemorar o nascimento de uma princesa, filha de D. João VI.




Houve, então, um "brinco militar" - paródia guerreira - e um "brinco de touros" e uma "encamisada" - cavalgada de 200 homens, vindos de S. Roque.
A parte sul do campo era limitada, em parte, pelo Castelo de S. Brás e, em parte, por casas cujas traseiras davam para o Corpo Santo.

O aspecto do Campo de S. Francisco mais próximo do actual foi dado, por volta de 1825, pelo Governador Militar Brederode que o mandou arborizar, e colocar banquetas em redor. Até então, era o Campo do Dízimo, passando, a partir dessas obras, a ser local de recreio e de exercícios e paradas militares.

A sul do mesmo campo, havia uma fonte monumental. As armas da cidade, esculpidas em mármore e que havia na parte central dessa fonte, vieram de Lisboa e foram colocadas em fins de 1849.
Em 9 de Setembro de 1868, o Campo foi aterrado e nivelado de novo, sendo então cortado o adro do Convento dos Franciscanos, para aí ser rasgada uma rua que ligaria directamente com a praça.

Ainda em 1870, houve, no Campo de S. Francisco, uma exposição de gado. Neste mesmo ano, e na esplanada rente ao Castelo, José Lopes do Rosário (popularmente conhecido por "Rei dos Tambores"), deu ali espectáculos de circo, com macacos e ursos.
No sábado, 2 de Julho de 1870, houve, no Campo, exercícios de fogo de peça e de espingarda, pelos marinheiros da corveta "Duque de Palmela".

Em Março de 1871, houve uma subscrição pública para alindar o Campo, iluminá-lo a petróleo e dotá-lo com um quiosque, ao centro. As obras de alinhamento começaram no mês seguinte, tendo a Câmara plantado novas árvores.

O coreto - uma construção leve, rendilhada, de madeira, imitando um pagode chinês - foi inaugurado no dia 12 de Maio de 1871. Segundo Bretão Ribeira (pseudónimo de Joaquim Maria Cabral, in "Açores", 1951), o coreto seria da autoria de Pedro Paulo que também foi autor do edifício da Agência do Banco de Portugal, em Ponta Delgada, de que foi director. Outros afirmam que o quiosque foi projecto dos irmãos José e Ernesto do Canto.

Este belo coreto foi pasto de um incêndio, ao meio-dia de 24 de Maio de 1957. Estava já todo ornamentado e com a respectiva instalação eléctrica, pronto para as festas, quando uma roqueira, lançada perto, caiu na cúpula. O fogo propagou-se rapidamente às centenas de flores de papel de cera que revestiam completamente o coreto. Os bombeiros conseguiram salvar apenas a estrutura que, coberta apressadamente de verduras, serviu nas festas daquele ano.
O antigo coreto foi substituído, anos depois, pelo actual, uma pesada estrutura de cimento, muito longe da graciosidade, leveza e harmonia daquele que ardeu.

O primeiro carrossel que apareceu no Campo de S. Francisco, pelas Festas do Senhor, foi em 1884, e pertencia a Manuel Coelho Lourenço, da Ilha Terceira, donde o trouxera. Vendera-o a Cândido José Xavier Jr., que o vendeu, por sua vez, a João Diogo, por 60$000 réis insulanos, ficando conhecido, por isso, pelo nome de "cavalinhos de mestre João Diogo".

A 7 de Abril de 1886, começou a demolição de parte da cerca do Convento da Esperança, para a abertura da Avenida do Coliseu, hoje denominada de Roberto Ivens. Por esse motivo, em Junho desse ano, procedeu-se à exumação de 80 cadaveres de freiras, que foram depositados no Cemitério de S. Joaquim, construído em 1846.

A 26 de Outubro de 1886, ficaram concluídas as três escadas, mandadas construir pela Câmara Municipal, em frente dos pórticos da Igreja de S. José.
O lajeamento em frente do hospital e da igreja começou a 10 de Novembro de 1886.
Na segunda-feira, 15 de Novembro de 1886, começaram as obras do actual pórtico do hospital.

Santo Cristo - O Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança - Açores - Portugal


O Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança foi o primeiro Convento de Freiras que se erigiu em Ponta Delgada. A sua construção foi iniciada em vida do seu fundador, o Capitão Donatário Rui Gonçalves da Câmara (Rui II) que, depois do terramoto de 20 de Outubro de 1522, que arrasou Vila Franca do Campo, passou a residir em Ponta Delgada que já era vila desde 1499.
Sua mulher, D. Filipa Coutinho coadjuvada por vários fidalgos, conseguiu concluir as obras, interrompidas ao tempo da morte do fundador ocorrida em 20 de Outubro de 1535. Foi em 23 de Abril de 1540 que as freiras deixaram o convento da Caloura, trazendo a Imagem do Senhor Santo Cristo, e vieram habitar o Mosteiro da Esperança.

Na segunda metade do século XVII, o Convento da Esperança começou a beneficiar de grandes melhoramentos: os célebres azulejos que ainda hoje se encontram no coro baixo, são da autoria de António de Oliveira Bernardes; a talha da capela do coro baixo é atribuída a Miguel Romeiro que, em sonhos, a ideara; a decoração do tecto da igreja e da primitiva talha da capela-mor e dos altares laterais foi realizada, em 1658, pelo pintor micaelense Manuel Pinheiro Moreira, irmão da Ordem Terceira de S. Francisco, em Ponta Delgada, e professor de pintura de suas próprias filhas.No ano de 1723, havia na Esperança 102 freiras e 57 noviças, pupilas e servas. Em 1821, a população do mosteiro era de 108 senhoras - 42 freiras professas, 36 seculares sem dispensa e 30 fâmulas. Em 1865, havia 72 senhoras, sendo 9 religiosas da Esperança, 11 do Convento da Conceição, uma do convento de S. João, uma do convento do Bom Jesus da Ribeira Grande, uma do convento de Santo André de Vila Franca, 16 meninas que serviam no coro, uma secular, duas senhoras que não faziam serviço, vinte e uma servas da comunidade e onze servas particulares.

As Religiosas de Maria Imaculada foram o quarto instituto a ocupar o Convento da Esperança. A última religiosa clarissa, a Madre Abadessa Maria Vicência Cabral, faleceu em Dezembro de 1894. Já então havia recolhidas que vestiam hábito e continuavam os usos conventuais, não obstante os reparos da imprensa periódica, ainda presa aos decretos anti monásticos de Maio de 1832.Com o Bispo D. António Meireles, na terceira década do presente século, vieram as Visitandinas, a que sucedeu a Congregação de São José de Cluny. Constituído o seu colégio, conforme risco do arquitecto micaelense João Rebelo, na Rua Agostinho Pacheco, coube às Religiosas de Maria imaculada ocupar o Convento, em cuja recuperação trabalharam como operárias.

Tinham as Clunicenses confiado à Madre Maria do Carmo o cuidado da Capela do Santo Cristo, dizendo a sua superiora que ninguém melhor do que uma açoriana saberia ocupar-se daquele recinto. A Madre Maria do Carmo era micaelense, sobrinha de Mariano Victor Cabral, notável redactor do "Diário dos Açores".As religiosas de Maria Imaculada, que ocupam, actualmente, o lugar das antigas Clarissas, ali presentes de 1541 a 1894, têm sido extremamente atentas ao significado espiritual do Convento e têm dado aos reitores do Santuário uma excelente cooperação.

Em Abril de 1959, o então Bispo de Angra, D. Manuel Afonso de Carvalho, declarou Santuário Diocesano a Igreja do Santo Cristo.Eis um extracto desse decreto episcopal:

"Dom Manuel Afonso de Carvalho, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica Bispo de Angra e Ilhas dos Açores:(...) Para que este culto de Jesus Cristo Rei não esmoreça e a Paixão do Senhor absorva plenamente as almas, sem que surja qualquer vislumbre de prática ou acto menos conforme com o espírito e orientação da Santa Igreja, havemos por bem:
1) Declarar a Igreja do Santo Cristo dos Milagres Santuário Diocesano e confiar a sua administração a um sacerdote especialmente designado por Nós;
2) Recomendar a todos os reverendos Párocos e Sacerdotes que incutem nos fiéis o verdadeiro espírito de piedade e fervor para com o Santo Cristo, prevenindo-os dos perigos por ocasião da festa anual, a fim de que todas as suas acções sejam para a maior glória do Senhor;
3) Exortar todos os Açorianos, de qualquer categoria que sejam, a que, nas horas de tribulação como nas de bonança, invoquem, com verdadeiro espírito de fé, o Senhor Santo Cristo e lhe peçam que lhes conserve a pureza do coração, a resignação nos infortúnios e, dum modo especial, a graça para levaram uma vida conforme com a vontade do mesmo Senhor, a fim de um dia O poderem aclamar no seu Reino de glória.
Dado em Angra e Paço Episcopal, aos 22 de Abril de 1959."

Santo Cristo - Madre Teresa da Anunciada - Açores - Portugal

Madre Teresa da Anunciada nasceu e foi baptizada no dia 25 de Novembro de 1658, na freguesia de São Pedro da então vila da Ribeira Grande. Entrou para o Convento da Esperança onde iniciou o seu noviciado, em 19 de Novembro de 1681, vindo a fazer os votos solenes em 23 de Julho de 1683. Morreu, com fama de santidade, em 16 de Maio de 1738.


O prelado da Diocese de Angra deu início ao processo jurídico sobre a Vida e Virtudes de Madre Teresa, em 5 de Maio de 1738; nesse mesmo ano, em 6 de Agosto, o Provincial dos Franciscanos nos Açores deu início ao processo jurídico da Vida e Virtudes de Madre Teresa, feito pela Ordem de São Francisco.


Há poucos anos, circulou, entre a população açoriana, um abaixo-assinado, dirigido ao Santo Padre, do seguinte teor:"O povo dos Açores tem um grande amor e devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Amor e devoção que ultrapassaram em muito as fronteiras da Região, porquanto em todos os países da diáspora açoriana se celebram festas em honra do Senhor Santo Cristo e são muitos milhares os que, de quase todo o mundo, se deslocam todos os anos em peregrinação de súplica ou acção de graças ao Senhor.Tudo começou com uma Religiosa Clarissa, Madre Teresa da Anunciada que, no silêncio do convento, recebeu um apelo especial para honrar e desagravar o Senhor na Sua Flagelação representado na Imagem do Ecce Homo.


A partir, sobretudo de 1700, o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres tomou tal grandeza que, desde então, nunca mais esfriou. As graças e os milagres têm sido uma constante. Madre Teresa da Anunciada foi um instrumento para ajudar a recordar aos homens que Deus é solidário com o Seu povo.Monja de vida austera e intrépida na sua fé, pela oração intensa, pelo seu amor a Jesus e à Eucaristia e pela sua devoção a Maria Santíssima, é tida como modelo de santidade e considerada a grande intercessora junto do Senhor que tanto amou.Por isso, junto a minha voz à de muitos sacerdotes e fiéis, implorando a Vossa Santidade seja concedido o "nihil obstat" para a organização do Processo de Beatificação da Serva de Deus a fim de ser elevada à honra dos altares, assim o espero".


O Reitor do Santuário da Esperança, Monsenhor Agostinho Tavares, já anunciou que vai solicitar a intervenção junto da Santa Sé do novo Bispo dos Açores, D. António Braga, no sentido da beatificação de Madre Teresa da Anunciada.Os restos mortais de Madre Teresa conservam-se numa pequena urna que se guarda na Capela do Senhor Santo Cristo, no Mosteiro da Esperança.


Em fins do século passado, ou começos deste século, um dos bispos de Angra mandou abrir a caixa, que ainda hoje se conserva no coro baixo do Convento da Esperança e que contém os despojos mortais de Madre Teresa da Anunciada.


Removida que foi a respectiva cobertura, logo se evolou um magnífico e inexplicável aroma. Poderá alguém, mais exigente, não querer aceitar o facto. O certo é, porém, que da vida da Madre Teresa se evola um perfume que resiste a todas as inconsequências dos homens, a todos os desvios de alguns devotos, certamente sinceros, mas pouco esclarecidos.


O pai de Teresa de Jesus (mais tarde, Teresa da Anunciada) foi Jerónimo Ledo de Paiva, nascido na Ribeira Seca da Ribeira Grande, em Julho de 1601. A mãe foi Maria do Rego Quintanilha, baptizada na paroquial de S. Jorge, da Vila do Nordeste, em 11 de Agosto de 1614. A prolongada doença de Jerónimo Ledo de Paiva, que acabou por vitimá-lo, numa sexta-feira, 24 de Janeiro de 1666, foi a grande desgraça que se abateu sobre esta família, de treze filhos, sendo Teresa a mais nova. Foi sua irmã, Joana de Santo António, que fez os impossíveis até conseguir que Teresa de Jesus entrasse no Convento de Nossa Senhora da Esperança.


Quando Teresa chegou à idade de aprender a ler, sucedeu que veio por essa ocasião do Brasil seu irmão, Frei Simão do Rosário, para descansar alguns meses e restabelecer-se das extenuantes missões pelo sertão brasileiro. Ensinou a ler as irmãs mais moças e Teresa deliciava-se com a leitura da vida de santos, em especial as "Meditações de Santa Brígida".


Quando chegou o dia da profissão de Teresa, a procissão de ingresso que se organizou com luzido acompanhamento, saiu da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, do Convento dos Franciscanos, para a de Nossa Senhora da Esperança. Sobressaía a figura de Teresa de Jesus que, nesse momento, já estava crismada com o nome que a devia celebrizar - Teresa da Anunciada.


A família, os convidados e o conjunto musical, acompanhados de alegre repicar de sinos das torres de várias igrejas circunvizinhas, festejavam este acontecimento.Quando Teresa entrou para o Mosteiro da Esperança, estava no coro baixo, a um lado, num pequeno altar, uma imagem do Senhor, no passo do "Ecce Homo", que tinha um registo a tapar a abertura do peito, pois outrora servira de sacrário. A pedido de sua irmã, Joana de Santo António, Teresa conseguiu um novo altar para a Imagem que foi a encarnar. Pediu a Madre Jerónima do Sacramento, do Convento de Santo André, de Ponta Delgada, que fizesse uma cana de flores de seda, para ornar o Senhor quando regressasse ao seu novo altar.


A Imagem do Senhor Santo Cristo estava no seu novo altar, mas o tecto do coro era formado pelo soalho do coro alto que, além de velho, tinha muitas frinchas que deixavam passar o pó, além do barulho que se sentia quando se andava no coro alto. Teresa conseguiu que fosse construída uma capela e, a seu pedido, D. Pedro II, por alvará de 2 de Setembro de 1700, concedeu uma tença de doze mil réis, para manter acesa, dia e noite, uma lâmpada de azeite diante do altar do Senhor Santo Cristo.


Nenhuma dessas capelas chegou aos nossos dias, mas, sim, uma terceira, mandada construir posteriormente e que foi benzida a 22 de Março de 1771. Foi por esta época que Madre Teresa da Anunciada desejou que a Imagem do Senhor saísse em procissão, passando por todas as igrejas e conventos da cidade. Por intermédio do Conde da Ribeira Grande, obteve licença do Prelado, D. Frei António de Pádua, e a primeira procissão do Senhor Santo Cristo realizou-se a 11 de Abril de 1700, segundo o investigador Urbano de Mendonça Dias. (O investigador mais recente Luciano Mota Vieira invocou pesquisas que fazem recuar para 1698 a primeira procissão.


O cortejo repetiu-se em Abril de 1700 e foi esta data que, durante muito tempo, foi apontada como sendo a da primeira procissão).A devoção que esta procissão despertou foi tal que nunca mais deixou de se realizar, salvo uma ou outra vez, por efeito de mau tempo. É a maior devoção que se realiza em terras portuguesas.


Madre Teresa parece que não teve velhice, tal a energia que manteve até ao fim da vida. A última doença prostrou-a aceleradamente. Os jejuns, os cilícios, as penitências e uma cama feita com uma enxerga de palha sobre ramos, parece que nunca lhe tiraram as forças do corpo e lhe fortificaram as da alma. A doença que a vitimou não foi longa. Pressentiu a morte que chegou ao amanhecer de sexta-feira, dia 16 de Maio de 1738. Teresa ia completar, em Novembro seguinte, 80 anos de idade. A devoção que Teresa da Anunciada tão intensamente sentiu por Cristo no passo do "Ecce Homo" foi dando, através dos séculos, novas ressonâncias ao culto do Senhor, a ponto de ter chegado aos nossos dias, com notável influência na espiritualidade do nosso Povo.


A 16 de Maio de 1954, foi colocada uma lápide comemorativa na casa onde nasceu a Madre Teresa, sita à Rua do Torninho, na Ribeira Seca.


A 12 de Maio de 1963, foi inaugurado, junto à igreja da Ribeira Seca, um busto da Madre Teresa, da autoria do escultor Numídico Bessone.Em Dezembro de 1992, Madre Teresa da Anunciada foi oficialmente designada Patrona da escola n° 5 da Ribeira Seca.


A grande estátua da Madre Teresa, junto ao Santuário do Santo Cristo, em Ponta Delgada, foi inaugurada em 26 de Maio de 1984.