segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Os Romeiros da Quaresma - Açores - Portugal

Na 4ª feira de cinzas dá-se início à Quaresma. Durante as 5 semanas que se seguem é comum ver nas estradas de São Miguel grupos de homens caminhando e rezando em voz alta. Estes peregrinos a que se dá o nome de Romeiros, saem às ruas da ilha todos os anos para reafirmar a sua fé e agradecer a Deus as graças concedidas. A tradição terá surgidos em 1522, quando a primeira capital de São Miguel, Vila Franca do Campo foi sacudida por um forte tremor de terra. Seguiu-se uma erupção vulcânica em que dos 4.500 habitantes só sobreviveram 500. Quarenta anos mais tarde outro vulcão surgiu no local onde se situa a Lagoa do Fogo.

Desde então há registo de que todos os anos grupos de homens caminham orando à volta da ilha, cumprindo promessas, é sobretudo a rezar que os dias vão passando, rezar e caminhar.
Durante 1 semana estes homens carregam consigo apenas um saco com o essencial e vão pernoitando em igrejas, escolas ou casas de pessoas que se oferecem para receber os Romeiros. Por vezes as casas de folha (palha) são suficientes para passar a noite. Na casa em que são acolhidos é hábito lavarem-lhe os pés doridos.

O “procurador das almas” é quem fica para trás do cortejo, de modo a receber os pedidos de quem passa por eles na estrada. Os “irmãos” rezam, sendo o “mestre” quem sabe quais as orações apropriadas. O “contramestre” segue a meio do cortejo, na companhia do “lembrador das almas”, enquanto à frente os guias marcam o compasso, dão o ritmo de modo a facilitar a caminhada e a torna-la mais agradável a todos. Os irmãos mais pequenos caminham à frente e levam a cruz.


Trazem todos na mão o bordão de madeira e trajam hábitos tradicionais, carregados de simbolismo. Antigamente andavam descalços, actualmente, utilizam calçado mais confortável. O bordão é feito em pinho, à medida de cada irmão, o do mestre destaca-se dos restantes por possuir uma cruz na extremidade. O xaile representa o manto com que cobriram Jesus; o lenço representa a coroa de espinhos; a saca que transportam às costas representa a cruz e o terço é dedicado à Virgem Maria.

Quando regressam à paróquia, as irmandades despedem-se na chamada “despedida da salvação”, uma festa em que participam todos os habitantes da freguesia.
Passaram oito longos dias de caminhada e fé, de companheirismo e oração. Fecha-se o percurso em círculo no sentido dos ponteiros do relógio, como se uma viagem de eterno retorno se trata-se, uma volta à ilha, uma volta ao mundo.

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